Os grandes tesouros que os padres do deserto nos deixaram, foram seus escritos. Conselhos que eles deixavam com as pessoas que os buscavam pedindo ajuda. Evágrio Pôntico, foi um escritor, asceta e monge cristão. Ele dirigiu-se ao Egito, a “Pátria dos Monges”, a fim de ver a experiência desses homens no deserto, e acabou por se juntar a uma comunidade monástica do Baixo Egito.
Evágrio trouxe um aspecto positivo para a Igreja. Da sua vivência com os monges, traçou as principais doenças espirituais que os afligiam – os oito males do corpo; esta doutrina foi conhecida de João Cassiano, que a divulgou pelo Oriente; mais tarde, o Papa Gregório Magno também ouviu falar nela, e adaptou-a para o Ocidente como os sete pecados capitais – a saber a soberba, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, a gula e a preguiça.
Quero deixar para você alguns dos tantos textos que esse grande monge nos deixou como herança. Comecemos com a gula, que ele chama de gastrimargia. Quero propor a você que no dia de hoje você se reveja em relação ao seu comer. Ao ler isso, mais uma vez eu vivi a experiência de me rever quanto a isso. Quem me conhece de perto sabe da minha luta contra a balança. E esse texto caiu em minhas mãos no tempo oportuno, por que agora estou indo de férias (você sabe, casa da mãe, comidinha da mãe…) Então é um tempo para prudência no comer. Espero que te ajude também.
A origem do fruto é a flor e a origem da disciplina espiritual é a moderação. Quem domina o próprio estômago, diminui as paixões, pelo contrário, quem é subjugado pela comida, aumenta os prazeres. Assim como Amalec é a origem dos povos, também a gula é a origem das paixões. Assim como a lenha é alimento do fogo, a comida é o alimento do estômago. Muita lenha proporciona uma grande chama e a abundância da comida nutre a concupiscência. A chama se extingue quando há menos lenha e a miséria de comida apaga a concupiscência. Aquele que domina a boca, confunde os forasteiros e desata facilmente as suas mãos. Da boca bem coordenada brota uma fonte de água e a libertação da gula gera a prática da contemplação. A estaca da tenda, atacando, matou a boca inimiga e a sabedoria da moderação mata a paixão. O desejo de comida gera desobediência e uma deleitosa degustação afasta do Paraíso. As comidas saborosas saciam a garganta e nutrem o glutão de uma imoderação que nunca cochila. Um ventre indigente prepara para uma oração vigilante; ao contrário, um ventre bem cheio convida para um longo sono. Uma mente sóbria se alcança com uma dieta bem pobre, enquanto que uma vida cheia de delicadezas lança a mente no abismo. A oração daquele que jejua é como um pintinho voando mais alto que uma águia, enquanto que a [oração] do glutão está envolta nas trevas. A nuvem esconde os raios do sol e a digestão pesada dos alimentos ofusca a mente.