Segunda parte da catequese do Papa Bento XVI
sobre Santa Brígida
Quando
Brígida torna-se viúva, inicia-se o segundo período da sua vida. Renunciou a outras núpcias para aprofundar a união com o Senhor
através da oração, penitência e obras de caridade. Também
as viúvas cristãs, portanto, podem encontrar nessa santa um modelo a seguir. Com efeito, Brígida, com a morte do marido, após ter distribuído
os seus bens aos pobres, mesmo sem ter feito a consagração religiosa,
estabeleceu-se junto ao mosteiro cisterciense de Alvastra. Ali começaram as
revelações divinas, que a acompanharam durante todo o resto de sua vida. Essas
foram ditadas por Brígida a seus secretários-confessores, que as traduziram do
sueco para o italiano em uma edição de oito livros, intitulados Revelationes(Revelações). A esses livros, une-se também um suplemento, que é
intitulado precisamente Revelationes extravagantes (Revelações suplementares).
As Revelações de Santa Brígida apresentam um conteúdo e um estilo muito variado.
Às vezes, a revelação apresenta-se sob a forma de diálogos entre as Pessoas
divinas, a Virgem, os santos e também os demônios; diálogos nos quais também
Brígida intervém. Outra vezes, ao contrário, trata-se do relato de uma visão
particular; e, em outras, é narrado ainda aquilo que a Virgem Maria lhe revela
acerca da vida e dos mistérios do Filho. O valor das Revelações de Santa Brígida, por vezes objeto de algumas dúvidas, foi
precisado pelo Venerável João Paulo II na Carta Spes Aedificandi:
"Não há dúvida que a Igreja, ao reconhecer a santidade de Brígida, mesmo
sem se pronunciar sobre cada uma das revelações, acolheu a autenticidade do
conjunto da sua experiência interior" (n. 5).

Recebendo
esses carismas, Brígida era consciente de ser destinatária de um grande dom de
predileção da parte do Senhor: "Filha minha – lemos no primeiro livro das
Revelações –, escolhi a ti para mim, ama-me com todo o teu coração […] mais do
que tudo o que existe no mundo" (c. 1). De
resto, Brígida bem sabia, e estava firmemente convencida, de que todo o carisma
é destinado a edificar a Igreja.
Exatamente por esse motivo, não poucas das suas revelações eram destinadas, sob
a forma de admoestações também severas, aos fiéis de seu tempo, incluídas as
Autoridades religiosas e políticas, para que vivessem coerentemente a sua vida cristã;
mas fazia isso sempre com uma abordagem respeitosa e de fidelidade plena ao
Magistério da Igreja, em particular ao Sucessor do Apóstolo Pedro.
Em
1349, Brígida deixou para sempre a Suécia e foi em peregrinação a Roma. Não
somente buscava participar do Jubileu de 1350, mas desejava também obter do
Papa a aprovação da Regra de uma Ordem Religiosa que pretendia fundar, em honra
ao Santo Salvador, e composta por monges e monjas sob a autoridade da abadessa.
Esse é um elemento que não deve surpreender-nos: na Idade Média, existiam
fundações monásticas com um ramo masculino e um ramo feminino, mas com a
prática da mesma regra monástica, que previa a direção da Abadessa. De
fato, na grande tradição cristã, à mulher é reconhecida uma dignidade própria,
e – sempre sob o exemplo de Maria, Rainha dos Apóstolos – um lugar próprio na
Igreja, que, sem coincidir com o sacerdócio ordenado, é igualmente importante
para o crescimento espiritual da Comunidade. Além disso, a colaboração dos
consagrados e consagradas, sempre no respeito da sua específica vocação,
reveste-se de grande importância no mundo de hoje.
Em Roma, na companhia da filha Karin
(Catarina), Brígida dedicou-se a uma vida de intenso apostolado e de oração. E,
de Roma, partiu em peregrinação a diversos santuários italianos, em particular
a Assis, pátria de São Francisco, pelo qual Brígida nutriu sempre grande
devoção. Finalmente, em 1371, coroou o seu maior desejo: a viagem à Terra
Santa, para onde foi em companhia dos seus filhos espirituais, um grupo que
Brígida chamava de "os amigos de Deus".
Durante aqueles anos, os Pontífices
encontravam-se em Avignon, distante de Roma: Brígida dirigiu-se severamente a
eles, a fim de que voltassem à sé de Pedro, na Cidade Eterna.
Morreu em 1373, antes que o Papa
Gregório XI retornasse definitivamente para Roma. Foi sepultada provisoriamente
na igreja romana de San Lorenzo in Panisperna, mas, em 1374, os seus filhos
Birger e Karin a levaram de volta para a pátria, ao mosteiro de Vadstena, sede
da Ordem religiosa fundada por Santa Brígida, que teve subitamente uma notável
expansão. Em 1391, o Papa Bonifácio IX canonizou-a solenemente.
A
santidade de Brígida, caracterizada pela multiplicidade dos dons e das
experiências que desejei recordar nesse breve perfil biográfico-espiritual,
tornam-na uma figura eminente na história da Europa. Proveniente da
Escandinávia, Santa Brígida testemunha como o cristianismo havia profundamente
permeado a vida de todos os povos deste Continente. Declarando-a
copadroeira da Europa, o Papa João Paulo II desejou que Santa Brígida – que
viveu no século XIV, quando a cristandade ocidental não era ainda ferida pela
divisão – pudesse interceder eficazmente junto a Deus para obter a graça tão
desejada da plena unidade de todos os cristãos. Por essa mesma intenção, que
tanto está presente em nossos corações, e para que a Europa saiba sempre
alimentar-se das próprias raízes cristãs, desejamos rezar, queridos irmãos e
irmãs, invocando a poderosa intercessão de Santa Brígida da Suécia, fiel
discípula de Deus e copadroeira da Europa.
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